A depressão é considerada o “mal do século”, pela Organização Mundial da Saúde e se tornou um grande desafio para os médicos e principalmente para a ciência, em busca de respostas de como combatê-la.
Segundo a OMS, 4,4% da população mundial sofre com a doença, o que seria cerca de 322 milhões de pessoas em todo o planeta. No Brasil, esse número se refere a 5,8% dos brasileiros, tornando o país o campeão da América Latina nesses casos.
Para se ter ideia do poder destrutivo da doença, cerca de 76 mil pessoas foram afastadas do trabalho no ano de 2016 aqui no Brasil. E prepare-se, segundo a OMS, até 2020, a depressão será a enfermidade mais incapacitante de todo o mundo.
Nesse artigo, quero te ajudar a ajudar outras pessoas que sofrem desse mal, observando seus comportamentos e ficando atentos às informações que podem revelar intenções ainda piores, como o próprio suicídio.
Depressão, o que é?
Depressão não escolhe cor, credo, raça, etnia e muito menos status. Muitas celebridades sofrem ou já sofreram com depressão e, alguns já cometeram suicídio por conta desse mal.
A depressão é um quadro clínico associado frequentemente ao suicídio. Estudos mostram que em média, cerca de 2 a 8% de adultos que estão com depressão, conseguem chegar ao seu objetivo. Aproximadamente 60% das pessoas que cometeram suicídio, apresentavam variações de transtornos de humor.
A Depressão se trata do Transtorno de Humor e ocupa classificações F32 e F33 no CID-10 – Classificação Internacional de Doenças.
CID 10 – F32 | Episódios depressivos |
CID 10 – F32.0 | Episódio depressivo leve |
CID 10 – F32.1 | Episódio depressivo moderado |
CID 10 – F32.2 | Episódio depressivo grave sem sintomas psicóticos |
CID 10 – F32.3 | Episódio depressivo grave com sintomas psicóticos |
CID 10 – F32.8 | Outros episódios depressivos |
CID 10 – F32.9 | Episódio depressivo não especificado |
O que causa a depressão?
“A depressão é um transtorno mental caracterizado por tristeza persistente e pela perda de interesse em atividades, que normalmente são prazerosas, acompanhadas da incapacidade de realizar atividades diárias, durante pelo menos duas semanas.” – OMS.
Isso quer dizer que a principal emoção vivenciada por um depressivo, é a tristeza e, como bem sabemos, tristeza por longos períodos levam as pessoas a ficarem depressivas.
Quando falamos da tristeza, é importante lembrarmos que ela é uma das sete emoções primárias e universais. Há um Atlas desenvolvido pelo Dr. Paul Ekman juntamente com Dalai Lama, onde mostra as emoções em estágios de maneira interativa.
O último ponto do estágio da tristeza, conforme você pode ver no gráfico, é o estágio da angústia, que é a preocupação exagerada com algo que não se conhece e nos leva ao sofrimento. Uma sensação de abafamento que pode ocasionar doenças psicossomáticas.
Para se chegar no ponto de ficar angustiado, certamente que a pessoa já vivenciou grandes perdas reais ou imaginárias. O gatilho universal da emoção de tristeza, é a perda.
A perda pode ser vista como: perder um ente querido ou perda de ânimo, motivação, vontade de viver etc…
Alguns sintomas ligados a depressão:
- Perda de motivação – É comum ver pessoas decepcionadas por não terem logrado êxito em seus desafios, e acabam abrindo mão e perdendo a motivação de persistir nos desafios;
- Pensamentos pessimistas – Após tentativas e mais tentativas, chega uma hora que além da perda da motivação, a pessoa passa a olhar tudo à sua volta com uma sensação de que, “o pior está por vir”;
- Falta de interesse por coisas que davam prazer – Michael Phelps relatou que depois das Olimpíadas de 2012 onde ganhou 6 das suas 28 medalhas, passou a sofrer com problemas de depressão;
- Baixa autoestima – Não se enquadrarem dentro de um “padrão” ideal, faz com que as pessoas se sintam inadequadas diante das que parecem ser perfeitas;
- Irritabilidade – Com frequência tendem a ficar irritados com coisas pequenas, que em outras ocasiões nem mesmo daria importância;
- Ansiedade exagerada – É uma maneira de olhar para o futuro e sofrer por algo que ainda nem aconteceu. Acabam criando coisas em suas próprias mentes e fazendo com que elas se tornem verdades, quando não são.
- Pensamentos frequentes sobre a morte – O que pode ser compartilhado como um desejo de não estar mais presente, e é aqui, o ponto da nossa postagem.
Área do cérebro depressivo
Pesquisadores de diversas universidades em todo mundo, analisaram os cérebros de 909 chineses, dos quais 421 sofriam com algum tipo de depressão. Os que não eram depressivos, serviram com parâmetro para a pesquisa publicada no Brain, da editora Oxford.
Segundo os resultados das análises feitas, houve alterações em duas regiões do cérebro dos depressivos: córtex órbito-frontal (OFC) medial e o lateral. Os dois OFCs estão interligados no hipocampo, que é onde encontra-se a matriz das nossas memórias.
- O OFC medial é o responsável, entre outras coisas, pelo tipo de alegria que sentimos quando algo bom nos acontece.
- O OFC lateral, faz o processamento das nossas reações aos eventos negativos.
Em suma, seria: o OFC medial estiver sendo alimentado como merece com informações boas, certamente teremos mais coisas alegres do que ruins. Se alimentarmos o OFC lateral, isso quer dizer que as memórias de eventos ruins, ganharão espaço em nossa mente.
Como pensam alguns depressivos
Tudo que um depressivo quer é aliviar sua dor, e para isso, alguns tomam atitudes drásticas contra sua própria vida. É um equívoco pensar que uma pessoa depressiva quando começa a falar sobre acabar com a própria vida, ela está apenas tentando chamar a atenção para si.
“Em um ponto da entrevista, o médico perguntou a Mary acerca de seus planos para o futuro. Em uma pequena pausa antes de responder, percebemos um aspecto de intensa angústia, tomar conta da face de Mary. Esse aspecto durou apenas dois quadros em 24 — 1/12 de segundo —, e foi rapidamente disfarçado por um sorriso. Observamos repetidas vezes; não restava dúvida do que revelava. No quadro congelado, a emoção verdadeira de Mary era muito clara e, em seguida, era deliberadamente escondida. Depois que descobrimos o que procurar ao analisar o filme em câmera lenta, localizamos mais duas expressões muito rápidas de angústia” (P224, Linguagem das Emoções – 2011)
A Linguagem Corporal da depressão
Em nível corporal, é possível perceber alterações fisiológicas e comportamentais que podem fazer revelações sobre as emoções que a pessoa está vivenciando. Isso não quer dizer que você pode fazer um diagnóstico, mas que pode utilizar o conhecimento acerca de obter mais informações e te ajudar a ser mais assertivo, tanto ao diagnosticar como em proteger uma pessoa que sofre com a doença.
Ao contrário do que se imagina, sempre haverá um sinal que pode revelar que uma depressão pode estar se agravando e evoluindo para um suicídio. Já presenciei casos tanto na família quanto de amigos próximos, que deram fins em suas vidas, e as pessoas que conviviam mais próximas a eles, diziam estarem perplexas, pois eles nunca haviam dado um sinal sequer que isso poderia um dia acontecer.
A verdade, é que não prestamos a devida atenção por não termos acesso às ferramentas, e também por termos esperança que aquele sofrimento termine ali, permitindo assim o autoengano.
Dentro das observações a serem feitas, aqui estão algumas:
- Postura corporal curvada – geralmente parecem estar carregando um grande fardo em suas costas;
- Ausência de gestos ilustradores – gestos utilizados para dar ênfase em pontos de uma fala;
- Uso frequente de gestos pacificadores – gestos utilizados para se autoconfortar;
- Expressões faciais com características de tristeza – mesmo quando sorri, alguns sinais demonstram que não é um sorriso genuíno, pode estar mascarando a tristeza, o medo ou qualquer outra emoção. Segundo Ekman, desprezo visto em faces de pessoas com depressão, é um falso sinal de melhora;
- Alteração na paralinguagem – alteração da expressão verbal, volume, tonalidade, dicção, velocidade. Parecem estar cansados e desanimados quando falam.
É possível utilizar o FACS – Facial Action Coding System, sistema de codificação facial desenvolvido por Ekman e Friesen, (que pode ser aprendido aqui) nas aplicações clínicas. Também, é possível fazer sua utilização para avaliar se uma emoção é genuína ou se é apenas uma máscara para disfarçar a emoção que está sentindo, como no caso de Mary.
Referências:
https://www.ucsf.edu/news/2018/11/412416/brain-stimulation-relieves-depression-symptoms
https://academic.oup.com/brain/article/139/12/3296/2411957
https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=5372:depressao-o-que-voce-precisa-saber&Itemid=822
Ekman, P. & Rosenberg, E. L. (Eds). What the face reveals: basic and applied studies of spontaneous expressions using the facial actions coding system (FACS) .
Ekman, P. & Frisen, W. V; & Harger, J. C. (2002). The Facial Action Coding System.
Ekman, P. (2011) Linguagem das Emoções.
Ekman, P. & Lama, D. (2017) Atlas of Emotions
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