Liderança

Conflitos, Neymar e Cavani

Anderson Carvalho
Escrito por Anderson Carvalho em 28/09/2017
Conflitos, Neymar e Cavani
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O fascínio exercido pela Linguagem Corporal está propriamente na capacidade de decifrar gestos que mesmo sendo negados verbalmente, o corpo entrega. Ainda mais quando o que está sendo negado é uma desavença e possíveis desentendimentos causados por conflitos.

Até porque conflitos implicam negativamente na imagem exposta, isso quer dizer que pode se perder prestígio, respeito, admiração e consequentemente dinheiro. Qual investidor gosta de ver seu dinheiro sendo exposto de forma negativa?

Mas em alguns casos a vaidade e disputa de egos são os principais desafios a serem superados e quando isso não acontece, as chances de um projeto milionário dar errado, são muitas.

Se tratando de conflitos no mundo dos negócios, as empresas contratam coaches especializados em mediação e gestão de conflitos para tentar amenizar e abafar problemas que são aparentes antes que eles possam trazer sérios danos. Um dos maiores conflitos que temos como exemplo é o caso de Neymar e Cavani, onde em uma disputa acirrada pelo ego, o principal objetivo do time pode ir por água abaixo.

A pergunta que todos estão fazendo

De um lado aquele que é o jogador mais valioso de todos os tempos, do outro o que era a estrela do time. Será que o dinheiro subiu na mente de Neymar ou os outros atletas estão com ciúmes dele ter chegado por último e com todos os privilégios que lhe foram concedidos?

Em uma negociação que é a mais cara da história do futebol mundial, promessas de todos os tipos certamente foram feitas. Alguns jornais relatam que a chegada de Neymar ao Paris San German “destruiu” o clima do time nos vestiários.

Leia o artigo onde mostramos o que você pode aprender com a Negociação de Neymar.

A situação é mais ampla do que essa pergunta.

Imagine esse cenário dentro de uma empresa. De um lado um grupo de colaboradores que acredita dar o sangue para empresa, e de repente chega um aviso que haverá uma contratação de um grande executivo de uma outra grande empresa e ele terá um salário três vezes maior do que o funcionário mais bem pago.

E começam ser oferecidos benefícios a esse novo executivo que para ele é atrativo, mas para quem já fazia parte do quadro de funcionários começa a ver como regalias e favorecimentos que nenhum antes tinha recebido.

Esse executivo vê isso como algo normal, já que para tirá-lo de uma empresa que ele está muitíssimo bem tem um custo altíssimo. Mas os outros funcionários enxergarão isso como falta de consideração com os outros que ali já estavam.

Sabe aquela expressão: Trocar de camisa por trocar, não faz sentido.

Para Neymar, trocar de camisa de time por trocar não fazia sentido algum, ganhar mais alguns milhões talvez nem tanto, mas ser a principal estrela dentro de um time sim, e acredito que seja esse o maior estímulo que ele tenha recebido ao aceitar a proposta do atual time.

No Barcelona ele era apenas mais um no grupo, a estrela continua sendo o Messi. No Paris Sant Germain, Neymar teve a chance de estar em um time onde ele poderia ser o principal destaque e aproveitou a chance, porém ele se achou mais importante que os outros e com isso os conflitos começaram a surgir.

A superioridade de Neymar é legítima?

Depende, se olharmos pelo sentido que Neymar sozinho não faz nenhuma diferença já que jogo é no coletivo e não no individual, sua superioridade não é legítima. Mas se olharmos com olhar de investidor e não de torcedor, perceberemos que ele é um “negócio” lucrativo.

Quando ele foi contratado para jogar no atual time, o que foi avaliado era o marketing e publicidade que ele poderia trazer para o time. O Paris Sant Germain utilizou dois gatilhos de marketing muito importantes:

Associação e Autoridade

O gatilho da associação ao nome Neymar ligado ao Paris Saint Germain rende mais prestígio ao time, e consequentemente se torna mais valioso aos olhares dos patrocinadores e investidores. Os torcedores tem um motivo a mais pra estarem motivados e irem ver os jogos. As vendas de camisas e qualquer outro souvenir aumentam.

O gatilho da autoridade de Neymar, como o principal jogador da Seleção Brasileira de Futebol, mais o grande prestígio no Barcelona, e sua popularidade nas redes sociais e versatilidade fora dos campos, geram uma imagem que o time quer vender para seus torcedores.

Mas a legitimidade em um investimento deve ser vista como um coletivo e não um individual. Afinal de contas, Neymar é o “astro”, mas sozinho ele não resolve o jogo. O trabalho em equipe prevalece no futebol.

Existem riscos com esse conflitos?

As prerrogativas cedidas a Neymar podem trazer riscos para o time sim, caso elas sejam colocadas como mais importantes do que o coletivo.

Nenhum funcionário gosta de se sentir inferior ao outro. Mesmo ele sabendo que a função do outro é de uma responsabilidade maior e valer cada centavo que lhe é pago.

Cargos mais altos são em sua maioria os mais desejados e disputados, pelo simples fato de que nem todos o ocuparão. Creio que não é pelo pênalti a briga entre os dois lados, pois foi dito que o time pagaria o bônus de 1 milhão de Euros para Cavani, mesmo ele sendo o artilheiro independente da quantidade de gols.

Um milhão a mais ou a menos para eles não faz diferença, a briga é pelo poder, o que eles querem é serem ouvidos como os salvadores da pátria, quem decidiu a partida, quem fez mais gols na história.

Já ficou claro que Cavani se posicionou como líder e não está disposto a abrir mão dessa função. É mais fácil Cavani influenciar seus colegas do time, pois eles são mais parecidos com ele, do que Neymar, já que foi colocado no pedestal.

Cavani conviveu mais tempo, sofreu derrotas e conquistou títulos ao lado dos seus colegas. Em termos mais práticos, ele esteve com a equipe em momentos de glórias e de fracassos. É natural que os seus colegas de equipe o tenham como uma referência de líder a ser seguido.

Não é sobre o pênalti

Um alto executivo não é movido pela quantidade de dinheiro que ele é capaz de ganhar, mas pelo impacto que é capaz de causar com suas decisões dentro de uma empresa.

O dinheiro atribuído a cada jogo ou cobrança, pouco importa para eles, mas o impacto que é capaz de causar na torcida, sim.

De quem o torcedor irá se lembrar quando um time conquista aquele título tão importante? Do jogador que ganha 10 milhões por mês ou do jogador que “conquistou” o título da sua vida? Torcedor não vai ao campo para ver a carteira ou extrato de quem tem mais dinheiro na conta, eles querem é saber se vão dar a vida naquele gramado.

Quando um time ganha um jogo, o torcedor se inclui na vitória e diz: nós ganhamos. Quando esse mesmo time perde um jogo importante, ele atribui a responsabilidade nos jogadores e toda comissão técnica: eles estão mal preparados e desperdiçaram a chance de conquistarmos aquela vaga importante.

O que pode acontecer se não encontrar uma solução?

Bem, o que acontece com uma empresa quando um colaborador contamina ao invés de contagiar a equipe? Enquanto essa equipe estiver ganhando, tudo tende a ser empurrado para debaixo do tapete, mas quando o time não ganhar e as derrotas começarem a se tornar frequentes, os conflitos se tornarão mais importantes.

Gestão conflituosa se não for resolvida em sua real essência, ela pode destruir não somente a equipe, mas todo trabalho construído, dinheiro envolvido e prestígio um dia conquistado.

Veja a quantidade de jogadores de futebol que se “perderam” no decorrer da carreira por conta de decisões aparentemente erradas.

Quantos times de futebol já desceram para outras divisões do futebol por crise no elenco e quantos times permanecem rebaixados?

Quantas empresas já tiveram de fechar filiais ou até mesmo fechar as portas por conta de conflitos internos?

Não dá pra dizer qual a solução para esse problema sem sequer viver a realidade de todos os envolvidos. Sugerir possíveis saídas é o arriscado já que você não sabe de fato, o que está envolvido por trás.

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